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A importância de educar a população

2020-05-06; interdisciplinaridade, pandemia, questionamentos

“A falta de consciência não deixa você perceber que o mundo está de cabeça para baixo”. Com essa peça (“Favela”), a agência de publicidade Leo Burnett, em 2004, articulou uma campanha em prol de investimentos em ações sociais. O que quero saber, em 2020, é: Agora você percebe?

Esse post parte de incômodos gerados pela quarentena, diante do cenário atual do país, permeando algumas reflexões acerca da urgente necessidade de difundir conhecimento e das limitações que esse caminho encontra.


por Rebeca Brasil

Abrangente esse tema, não é mesmo? Tão abrangente quanto a infinidade de temáticas que precisamos discutir, se quisermos, de fato, entender sua importância.

A verdade é que, quando me propus a escrever sobre ele (4 meses atrás), pensava em falar a respeito do que tanto tive o privilégio de estudar e debater na graduação de Arquitetura e Urbanismo - Planejamento Urbano, Estatuto da Cidade e suas ferramentas, tipologias edilícias, mobilidade, distribuição de cidade, entre tantos outros conceitos e variáveis - e sobre a necessidade de levar esse conhecimento para além da “bolha“ academicista, já que quase 2 milhões de artigos científicos são publicados, por ano, sendo que 80% deles nunca nem serão citados, devido, precisamente, ao distanciamento entre as temáticas acadêmicas e o debate cotidiano.

Sim e o que isso tem a ver com o “educar a população”? Confesso que, também, pensei em reservar um espaço, para “alfinetar” o processo de tomada de decisões públicas, em prol da participação popular e desse vínculo entre produção de conteúdo técnico e a população leiga e, bom, se queremos participação popular, claro que precisamos instruir as pessoas, gerar conteúdo, difundir informações, de modo que elas entendam o papel que podem ocupar na sociedade/cidade e o que devem cobrar das esferas políticas, técnicas e jurídicas, enfatizando que todos fazemos parte de uma coletividade, cujo interesse, em teoria, se sobressai aos meus, aos seus ou aos de qualquer indivíduo.

Infelizmente, sabemos que, na prática, não funciona bem assim. Então, estendo a pergunta: Onde entra a educação? Nós temos acesso a ela? Eu e você temos, mas e o pobre, e o negro e a periferia? Como falar de educação, em um país com abismos de desigualdade?

Como falar de educação, em um país, onde o ministro da educação ataca, verbal e financeiramente, as universidades?

Como falar de educação em um país, onde a figura que interpreta o papel de presidente assume uma conduta, deliberada, de desrespeito aos setores técnicos?

Pois é, quando me propus a escrever esse texto, não existia pandemia, a crise política e econômica era “velada” (aos “desatentos”), o sistema de saúde público era a última opção e a educação era balbúrdia.

Agora, que o SUS carrega a crise nas costas, que a tão esperada solução para o vírus depende, em grande parte, de pesquisas acadêmicas e, portanto, da educação e que a população segue desgovernada; me dei conta de que ainda mais relevante que compartilhar conhecimentos técnicos seria nos fazer questionar a sociedade, o lugar que ocupamos nela e, principalmente, o lugar que outros ocupam.

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