LabRua

Do muro pra fora: O movimento estudantil na formação política em Arquitetura e Urbanismo.

2020-13-08; formacao-politica, arquitetura e urbanismo, vivencias

Dedico esse texto ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFCG, que em 2020 completa 10 anos de existência. Em especial aos estudantes que a cada ano fortalecem a extensão universitária e a luta pelo o ensino público, gratuito e de qualidade. Foto de capa: Oficina do LabRua na SEMANAU 2019 - UFCG, 2019, Bruno Coelho.


por Allyson Barbosa

Quando pensei em escrever sobre esse tema eu ainda era estudante. Queria de alguma forma falar sobre essa construção política do/a profissional Arquiteto/a e Urbanista para além da sala de aula. É uma opinião que veio se firmando com o tempo e que hoje, apenas 1 ano formado, já consigo ver, do muro pra fora, alguns resultados em mim que considero positivos.

É necessário entender que a prática política em arquitetura e urbanismo não é algo imediato. Na minha concepção, é um processo que se inicia dentro de sala de aula, mesmo que com pensamentos ainda fragmentados, mas que começam a ganhar forma e força no momento que saímos dela. É a compreensão de espaços e pessoas, nas suas individualidades e pluralidades. É sobre impacto, escala e também sobre movimento.

E para falar sobre todo esse processo não poderia começar de outra forma senão falando do Movimento Estudantil, que para muitos, é a primeira “saída da caixinha” e que tanto me inquietou, ensinou e me transformou durante a graduação. Foi um momento de pensar no coletivo. Lugar para gritar, ouvir e questionar. Juntar forças, reconhecer a diversidade e criar unidade diante dela.

É dentro do Movimento estudantil que a gente se molda, ou melhor, se (des)molda, construindo novos modelos de universidade e sociedade. É quando se começa a perceber que muitas vezes é preciso gritar para se ouvir a voz. Lugar que a gente levanta e ajuda o outro a levantar. Onde o coletivo começa a se mostrar eficaz, coerente e necessário. No meu caso foi a defesa de uma universidade pública, gratuita, de qualidade e colorida, feita pelo povo e para o povo, um local onde formalizamos nossos ideais e lutas diárias.

A ocupação de espaços da universidade, estimulando a força do coletivo (obrigado CACAU-UFCG <3); construção e participação de eventos, que despertem os/as estudantes para as diversas realidades; e a participação no ato pela educação (15M) -não tenho nem palavras pra explicar esse momento-, são algumas das experiências que vi e vivi durante a graduação e que ajudaram diretamente na minha formação de Arquiteto e Urbanista, com a construção de um pensamento crítico e coletivo sobre a sociedade e direito à cidade.

Estudantes e professores da UFCG no ato pela educação.

foto de Bruno Coelho, 2019.

Não muito distante do que já foi relatado, a experiência fora da universidade também é transformadora. É a compreensão do processo que se constrói inicialmente dentro da instituição, mas que ganha novas formas e escalas por possibilitar entendermos outros contextos, maiores e mais complexos. É sobre sentir e estar para impactar. É derrubar os muros da universidade para não dissociar da sociedade.

Espaços como o LabRua e o IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil), por exemplo, que nos permitem impactar em diferentes escalas. Experimentar. Conhecer. Reconhecer o papel do outro. Trabalhar em equipe. Sair. Fazer da rua a nossa eterna sala de aula ou laboratório. Conhecer pessoas e lugares, e todos os dias se restabelecer com o que está dentro, mas principalmente com o que está fora. Com o outro. Construir e viver a cidade.

Reconhecer esse caminho coletivo, de escuta e transformação é se formar e formar agentes ativos, engajados em construir cidades mais plurais e feitas pelo povo. Muitas vezes se trata também de entrar onde normalmente não somos convidados, e na verdade entender que não precisamos desse convite para exercer nossos direitos. É de alguma forma facilitar a comunicação e o acesso à informação, envolvendo no debate ainda quem está distante.

Estudantes e professores da UFCG no ato pela educação.

Mambembe Campina Grande, 2017.

Para exemplificar um pouco, trago aqui algumas experiências que foram marcantes na minha trajetória e que se transformaram em experiências únicas de contato e troca com pessoas e lugares. A participação em pesquisas, como a dos Vazios Urbanos no Núcleo Central de Campina Grande e o Diagnóstico da Feira Central de Campina Grande pelo LabRua; a promoção de debates de interesse comum, discutindo temas voltados para a ocupação de espaços públicos, desde a graduação construindo o Centro Acadêmico, como no LabRua e no IAB; e a organização de eventos, como a ‘Oficina Co-criar o urbano: repensar a rua em Terras Belas em Conde – PB’, uma imersão urbana na comunidade de Terras Belas, feita pelo LabRua em conjunto com o Poder Público e moradores, pensando coletivamente em formas de melhorar o espaço urbano e a qualidade de vida da população.

Gostaria de destacar a importância da juventude organizada nesse processo de construção política dos diferentes tipos de profissionais, principalmente de arquitetura e urbanismo. A participação nesses tipos de movimento durante nossa formação profissional é de suma importância na nossa compreensão enquanto cidadãos. Ela nos permite compreender um velho mundo e as novas formas de ouvir, agir, falar, questionar e ser político. Dá também um pontapé para enxergar o mundo de forma plural. Abrir portas para novas experimentações e evidenciar que não é preciso de títulos para comprovar experiência. Foi no Movimento Estudantil que eu entendi que a ação é extremamente importante, que existir se prova o bastante e que o caminho está apenas no início. Todos nós podemos e devemos ocupar novos espaços (políticos) e interagir com novos desafios. É preciso cada vez mais viver a cidade para criar repertório e incidir de maneira coletiva nos processos de construção e de gestão.

Se você ainda for estudante, aproveita pra saber mais, participar ou quem sabe iniciar/puxar o movimento estudantil na sua instituição de ensino. É através do trabalho de base que a gente consegue sentir as verdadeiras transformações.

Não é só a sala de aula que vai te formar profissional. Movimente-se, saia da caixinha, ouça a juventude, vá para a rua (quando der! rsrs)

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